terça-feira, 3 de maio de 2011

HOMENAGEM AOS ALUNOS DE REALENGO

Durante a abertura dos jogos do Projeto ATIVIDADE CULTURAL, foi lida, pela professora Cristiane, uma mensagem em memória aos alunos da Escola em Realengo-RJ

 Veja a Mensagem na íntegra

A professora de Língua Portuguesa que se deparou com o sujeito não pôde acreditar na oração que se impunha em plena aula: Homem invade sala de aula e atira em todos os alunos que seus tiros puderam alcançar.

A aula de gramática foi interrompida. Treze vidas foram abreviadas. O Brasil olhou para Realengo e chorou. Todas as escolas brasileiras se viram dentro daquela sala de aula ensanguentada. Aquela professora apavorada podia ser eu.

Saí da minha última aula do dia. Passos curtos, voz cansada, desgaste físico, dia normal. Chegando à sala dos professores desenhava-se uma cena de terror: Televisão ligada, professores atônitos diante de um triste pronunciamento do governador do Rio de Janeiro: "Esse foi um massacre escolar sem precedentes no Brasil."

Perdi a fome, fiquei muda, ainda mais cansada. Uma tristeza profunda tomou conta de cada célula do meu corpo. Saí sem me despedir. Fiquei fora de área. Aérea. Sem reação.

Cheguei em casa e o noticiário reafirmava:  Homem invade sala de aula carioca mata doze crianças e deixa doze feridos. Por quê? Por quê? Por quê? Cada batimento cardíaco pulsava o mesmo questionamento. Qual a história desse assassino? Como ele teve coragem de tirar a vida desses alunos?

A mídia indica várias possibilidades: Solidão, bullying, fanatismo, psicopatia. Como fazer o diagnóstico? As hipóteses são gritadas na imprensa, mas nunca obteremos uma explicação que seja, no mínimo, razoável.

Engulimos esse fato a seco. A força. Estamos entalados. A violência chegou na escola brasileira: aluno mata professor, professor bate em criança, assassino massacra alunos em plena aula, etc.

A escola não foi feita para isso. Violência é o oposto de Escola. A escola é a casa do conhecimento. É o lugar de descobertas, de autoconhecimento, de convivência. Como pode o aluno ir estudar e não voltar à casa? Como se explica o fato de um professor planejar a sua aula, ir trabalhar e ser executado pela intolerância?

Seguem mais perguntas silenciosas. Sem respostas.. Apenas ruído, choro, suspiro, dor de todos os professores, alunos e profissionais da educação que vivem na escola e a tem como único espaço em que se tem a chance de lutar pela transformação social.

Após 7 dias do massacre, ainda sinto-me dolorida. A escola brasileira está manchada de sangue. É preciso limpar o sangue da sala. É preciso lavar a alma. É preciso acreditar na evolução humana.

A partir de hoje, não vou ensinar apenas questões sobre o substantivo e o adjetivo. Vou ensinar a amar e a conviver com as diferenças. Vamos aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e APRENDER A CONVIVER!

Vai meu amor para todas as 12 crianças que foram brutalmente retiradas do nosso convívio. Um beijo de luz em cada coração...

Cristiane.



Um comentário:

  1. Como foi bom poder compartilhar esse momento com vocês. Dividir a vida é somar forças!!! Mil beijos e obrigada!!!

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